Começo da madrugada de 27 de março de 2010. Quase dois anos depois da morte de Isabella Nardoni, o pai e a madrasta da menina foram condenados por homicídio triplamente qualificado
Alexandre Nardoni recebeu a pena de 31 anos, um mês e dez dias de prisão. Anna Carolina Jatobá, vinte e seis anos e oito meses.
Assim que a sentença foi divulgada a multidão em frente ao fórum comemorou. A mãe de Isabella recebeu a notícia por uma mensagem de celular enviada pela assistente de acusação. Emocionada, Ana Carolina Oliveira, chorava sem parar, encostada na rede de proteção da sacada do apartamento dela. Foi dali que ela acompanhou o fim do julgamento.
Os argumentos da acusação durante o debate conseguiram convencer os jurados de que a morte de Isabella foi provocada pelo pai e pela madrasta da menina. E a pena aplicada pelo juiz foi severa.
Depois de uma hora e meia na sala secreta, conduzindo as perguntas para a votação dos jurados, o juiz leu a sentença em um alto falante para que todos, dentro e fora do tribunal, pudessem ouvir.
“Condeno-os às seguintes penas: Alexandre Alves Nardoni a pena de 31 anos, um mês e dez dias de reclusão pela prática do crime de homicídio contra pessoa menor de 14 anos, triplamente qualificado, agravado ainda pelo fato do delito ter sido praticado por ele contra descendente; Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá à pena de 26 anos e oito meses de reclusão pela prática do crime de homicídio contra pessoa menor de 14 anos, triplamente qualificado”, proferiu o juiz Maurício Fossen.
Durante todo o dia, defesa e acusação fizeram apresentações em que o trabalho da perícia foi o tema central do debate.
O promotor Francisco Cembranelli afirmou que as provas contra o casal Nardoni eram arrasadoras. Segundo ele, a cronologia dos fatos feita pela perícia coloca Alexandre Nardoni e Anna Jatobá na cena do crime.
O promotor disse que registros de ligações telefônicas mostram que logo depois da queda de Isabella, Anna Jatobá ligou para o pai de Alexandre de dentro do apartamento ao mesmo tempo em que um vizinho chamava o resgate. Mas Alexandre não pediu socorro médico para a filha.
Questionado pela defesa sobre a prova de que o casal matou Isabella, o promotor disse que não havia como outra pessoa, além dos réus, ter estado no apartamento. Segundo a acusação, a perícia comprovou ser de Isabella o sangue encontrado no imóvel.
O promotor descreveu o comportamento de Anna Carolina Jatobá como explosivo e perturbado.
A defesa falou por quase três horas. O advogado dos Nardoni criticou trabalho da investigação. O advogado disse que a polícia não preservou o local do crime como deveria e que policiais e peritos tomaram cafezinho no apartamento durante a coleta de amostras. Ele falou ainda que a perícia não examinou as unhas de Anna Jatobá, acusada de esganar Isabella.
De acordo com a defesa, poderia haver uma terceira pessoa no apartamento, já que uma testemunha disse ter ouvido um barulho de porta batendo no mesmo instante da queda de Isabella.
O advogado rebateu a contagem de tempo feita pela acusação. Ele disse que o casal levou 12 minutos entre a chegada à garagem e o momento em que viu Isabella caída no jardim. E que esse tempo seria suficiente pra uma terceira pessoa agir.
Falou ainda que, no dia anterior à morte de Isabella, a madrasta olhou a menina brincando na piscina do prédio e a levou à escola. Disse que Anna Jatobá não tinha motivo para matar Isabella.
Depois do julgamento, a defesa saiu separada em dois carros, sem dar entrevistas. Pela assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, Roberto Podval, parabenizou a acusação e disse que o brilho da noite era do promotor Francisco Cembranelli. E foi sob aplausos que o promotor fez um desabafo ao falar do trabalho da acusação.
“É difícil você trabalhar com um caso em que não há testemunhas presenciais. Claro que você precisa reconstruir a história com outras perícias, com outros elementos e acho que a qualidade do trabalho feito mostrou que o resultado não foi alcançado a toa”, disse Cembranelli.
Ao deixar o fórum, os caminhões que levavam os condenados, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram cercados pela multidão. Algumas pessoas bateram nos veículos, que chegaram a parar. A polícia usou gás de pimenta para que os manifestantes se afastassem. Por motivo de segurança, o casal, que, iria dormir em São Paulo, foi direto para os presídios em Tremembé, no vale do Paraíba. Jornal O Globo
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