Crise no Esporte derruba Orlando Silva
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
A direção do PC do B afirmou que o ministro Orlando Silva (Esporte) vai entregar o cargo nesta quarta-feira (26) à presidente Dilma Rousseff.
O governo já está buscando nomes para substituí-lo na pasta. Os cotados para a vaga são os deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Luciana Santos (PC do B-PE).
Procurado pela Folha, Orlando afirmou que quem demite ou nomeia ministro é a presidente Dilma. "Não dou nenhum passo sem a orientação da presidente", disse em mensagem enviada por celular.
O ministro já está no Palácio do Planalto. A situação de Orlando se agravou ontem (25), data em que o STF (Supremo Tribunal Federal) iniciou, de fato, as investigações de um suposto envolvimento do ministro na pasta. E após a Folha revelar que em julho de 2006 Orlando assinou um despacho que reduziu o valor que a ONG do policial militar João Dias Ferreira precisava gastar como contrapartida para receber verbas do governo, permitindo que o policial continuasse participando de um programa social do ministério.
O documento, revelado ontem pela reportagem, foi o primeiro a estabelecer uma ligação direta entre Orlando e o policial, que hoje acusa o ministro de comandar um esquema de desvio de dinheiro público para alimentar o caixa do PC do B.
Há dois critérios vistos como ideais no governo para orientar a nova nomeação: ter perfil para jogar duro com Fifa e CBF, como deseja Dilma; e ser capaz de desmobilizar as irregularidades no Esporte, mesmo que isso implique demitir correligionários.
Sérgio Lima - 18.out.2011/Folhapress | ||
Orlando Silva, ministro do Esporte, presta esclarecimentos na Câmara; atrás dele, obra "Tiradentes ante o Carrasco" (1951), de Rafael Greco, mostra o incofidente indo à forca |
PC DO B
Ontem, após ouvir Orlando por mais de três horas na Câmara, a bancada do partido se reuniu à noite na casa de Aldo Rebelo para discutir sua situação. Pela primeira vez desde o começo da crise, há 11 dias, o PC do B avaliou a situação do ministro como "muito difícil".
Segundo relatos de participantes, o presidente do partido, Renato Rabelo, contou aos presentes o teor de sua conversa com o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral).
Segundo Renato disse aos deputados, o chamado do Planalto ontem à tarde foi para comunicá-lo da mudança da posição da presidente Dilma Rousseff em relação ao cenário no Esporte.
Com a abertura do inquérito pelo STF, o Planalto avaliou que a crise estava se agravando e seria difícil manter Orlando no cargo.
Rabelo conversou com o advogado-geral da União, Luis Adams, para explicar à bancada que o inquérito era "um processo administrativo", segundo relatos. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), apareceu no final da reunião.
ENTENDA O CASO
Orlando é suspeito de participação num esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que dá verba a ONGs para incentivar jovens a praticar esportes. A acusação foi feita à revista "Veja" pelo policial militar João Dias Ferreira.
O soldado e seu motorista disseram à revista que o ministro recebeu parte do dinheiro desviado pessoalmente na garagem do ministério.
Ferreira, que foi à Polícia Federal na segunda-feira (24) para prestar depoimento, disse ter entregado áudios de uma reunião que fez com funcionários da pasta para tentar resolver a prestação de contas de um de seus convênios.
Na semana passada, Ferreira depôs por mais de oito horas na PF. Segundo o policial, seu motorista, Célio Soares Pereira, vai se apresentar esta semana para também prestar depoimento. Célio afirmou à revista "Veja" ter presenciado a entrega de dinheiro na garagem do ministério.
Segundo o ministro, que tem desqualificado o policial militar em entrevistas e nas oportunidades que falou do assunto, disse que as acusações podem ser uma reação ao pedido que fez para que o TCU (Tribunal de Contas da União) investigue os convênios do ministério com a ONG que pertence ao autor das denúncias.
Em nota, o Ministério do Esporte disse que Ferreira firmou dois convênios com a pasta, em 2005 e 2006, que não foram executados. O ministério pede a devolução de R$ 3,16 milhões dos convênios.
De acordo com o ministro, desde que o TCU foi acionado, integrantes de sua equipe vêm recebendo ameaças.
Folha.com
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