Orlando Silva 'propôs acordo para me calar', diz PM
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
O policial militar do Distrito Federal João Dias Ferreira, 39, disse ontem que o ministro do Esporte, Orlando Silva, lhe propôs um acordo, em março de 2008, para que não levasse a órgãos de controle e à imprensa denúncia sobre irregularidades no Programa Segundo Tempo.
Ferreira protestou, na reunião que afirma ter tido, sobre ação do ministério que apontou irregularidades em dois convênios.
O ministro nega o encontro com Ferreira em 2008. Diz que só se encontrou com ele em 2004 e 2005.
Folha - Que tipo de provas o sr. pretende apresentar a respeito dos fatos que o sr. narrou à revista "Veja"?
João Dias Ferreira - No momento certo, não sei ainda se no Ministério Público ou na PF, [os advogados] apresentarão dois áudios que nós temos e alguns documentos.
O ministro tinha conhecimento de irregularidades no Segundo Tempo?
Sempre soube, sabe até hoje. E isso funciona ainda. [...] São empresas de familiares, de militantes. Então tudo é uma grande logística, é uma grande engrenagem.
Você chegou alguma vez a conversar sobre esse assunto com o ministro Orlando?
Já. Em março de 2008, foi nessa reunião que eu exigi a participação dele para homologar o acordo em que ele sanaria todos os problemas das minhas ONGs. Eu falei: "Olha, não concordo com o que foi feito. Você estão abusando, estão produzindo documentos, eu vou denunciar". Eu pensei até que ele não sabia. Nessa época ficou evidente que ele sabia. Inclusive ele assumiu um acordo: "Olha, tudo bem, vamos sanar esse problema".
Onde foi a reunião?
No gabinete dele. Ele já era ministro. A reunião foi feita extraoficialmente.
Quem participou da reunião?
Orlando Silva, Julio Filgueiras, que era o secretário nacional de esporte educacional, inclusive pediu exoneração logo em seguida em virtude das repercussões dos fatos noticiados na imprensa [sobre irregularidades em ONGs]. O corpo jurídico, salvo engano, era liderado pelo atual secretário-executivo Valdemar, a Milena, que era chefe de fiscalização.
Nessa oportunidade você narrou irregularidades?
Todas elas, e ninguém negou. O próprio ministro falou para mim: "Fique tranquilo que nós vamos regularizar a situação. Não precisa tomar parte ao Ministério Público, à imprensa, porque aqui eu tenho todas as condições legais para sanar os problemas".
Você disse que iria procurar a imprensa e o Ministério Público se ele não solucionasse...?
Disse. E esse acordo foi da seguinte forma, que ele sanasse [os problemas da prestação de contas das ONGs de Ferreira], encerrasse minhas entidades. E nessa reunião ficou acertado que ele mandaria as duas entidades para o TCU para homologação.
Você não gravou a reunião?
Nessa, não, mas tenho outra, a posteriori, que se originou dessa. Onde estavam presentes o Adson, que era "subministro", o Fábio, que é atual secretário, o Julio Filgueira, o Charles, que era chefe de gabinete do Adson. Essa reunião foi logo em seguida, provavelmente em abril. Foi na calada da noite, no sétimo andar, na sala do Adson, no ministério.
Na reunião com o ministro, o que sr. pediu a ele, o que o sr. chama de sanar problema?
Tenho como provar. São problemas da seguinte natureza. Pediram 20% lá atrás...
Quem pedia?
Tinha uma comissão de captação. Era uma comissão grande, eles iam para impressionar. Tudo uma operacionalidade fraudulenta. "Olha, nós cobramos normalmente, entre 10 e 20%." E eu concordei. Porque até então eu imaginei que estaria no cronograma de desembolso previsto. Só que não tinha. [...] E eu me recusei a pagar. Aí começou a guerra. Eu paguei 1% [a uma empresa que dizia fazer consultoria], no valor de R$ 20 mil, e o documento está na 10ª Vara Federal.
O episódio da garagem, o sr. documentou?
Não. Em nenhum momento eu falei que eu vi o ministro receber. Eu falei que o braço direito dele, que é o Fredo [Ebling], falou para mim várias vezes que entregou.
Por que o sr. decidiu fazer as denúncias agora?
Estava aguardando o Ministério Público me chamar.
Folha.com
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