Colegiado tucano é formado no momento em que o governador de Goiás está sob suspeita
Débora Álvares, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Com integrantes do partido no foco da CPI do Cachoeira, o PSDB resolveu ativar o seu Conselho de Ética interno, ainda que mantenha a disposição de defender políticos da sigla flagrados em grampos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, especialmente o governador Marconi Perillo, de Goiás.
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A decisão foi tomada na quinta-feira, no mesmo dia em que o depoimento do delegado da PF Matheus Mela Rodrigues complicou ainda mais a situação de Perillo. O delegado reafirmou a relação do governador com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e informou que a casa de Perillo foi comprada com três cheques do sobrinho de Cachoeira, Leonardo Almeida Ramos, no total de R$ 1,4 milhão.
Na nota em que anuncia a instalação do Conselho de Ética, o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, afirma a conveniência da instauração do colegiado, mas líderes negam que isso represente ofensiva a Perillo. O conselho, segundo o PSDB, vai se dedicar à elaboração do Código de Ética do partido, enquanto acompanha a CPI. “Ter um Conselho de Ética é importante e o momento não poderia ser mais adequado”, afirmou Guerra, no comunicado. O ex-senador e médico Papaléo Paes (PA) presidirá o conselho.
Ação imediata. “Como está havendo uma movimentação a respeito de tucanos, seria bom ter o conselho pronto, caso haja necessidade de uma ação imediata”, disse Paes, que acrescentou que, no âmbito do colegiado, nada se fala a respeito de Perillo. Mas Paes garantiu que, devido às denúncias contra o goiano, as investigações da CPI e também do STJ serão acompanhadas de perto. “Não queremos ser um conselho precipitado. Ficaremos atentos para agir, se necessário.”
A estratégia de Perillo, de se colocar à disposição para esclarecer o seu envolvimento com Cachoeira, tem bom resultado no partido. Líderes tucanos utilizam o argumento para minimizar a repercussão do caso. Perillo pediu à Procuradoria-Geral da República que abrisse investigação contra ele e afirmou inteira disposição em depor na CPI. Para os tucanos, esta é a prova maior de inocência de Perillo. “Ninguém que deve se põe à disposição para depor em CPI”, disse o tucano Carlos Sampaio (SP), integrante da CPI.
Sampaio rebateu os comentários sobre o depoimento do delegado, aos quais chamou de sensacionalistas. “Ele mesmo (Matheus Rodrigues) disse não poder provar que, nas vezes em que Wladimir Garcêz (braço direito de Cachoeira) diz ter encontrado com o Marconi, o encontro realmente aconteceu”, destacou o tucano. “O delegado confirma que Garcêz pode ter feito isso para mostrar serviço para o chefe.”
Sobre os cheques do sobrinho do contraventor, Sampaio acredita que Perillo desconhecia o histórico do pagador. “Se ele soubesse que estava vendendo para alguém que tem relação criminosa, não pegaria os cheques e depositaria na própria conta.” Embora lembre a intenção do acusado de auxiliar nas investigações, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) acha necessário um distanciamento dele do cargo. “Sempre defendi, para adversários e companheiros, que quando denúncias têm consistência, o melhor caminho é o afastamento.” Para Dias, ao provar a inocência, o político deve ser reconduzido ao cargo.
Fonte: Estadão.com.br
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