terça-feira, 1 de maio de 2012

Grampos sugerem pagamentos de grupo de Cachoeira a Perillo e auxiliares


Áudios revelam que grupo negociava com integrantes da administração do tucano


Fábio Fabrini, Alana Rizzo e Alfredo Junqueira - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Grampos da Polícia Federal, obtidos na Operação Monte Carlo, flagraram o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e seus aliados em conversas que insinuam pagamentos ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e integrantes do primeiro escalão do governo em troca de vantagens em negócios públicos. As conversas, que citam diretamente o nome do governador, complicam ainda mais a situação do tucano, que deve ser alvo de investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira no Congresso.
Marconi Perillo (PSDB), é citado em diversas conversas de Cláudio Abreu e de Cachoeira - Dida Sampaio/AE
Dida Sampaio/AE
Marconi Perillo (PSDB), é citado em diversas conversas de Cláudio Abreu e de Cachoeira
Novas gravações obtidas pelo Estadoindicam que a organização do contraventor, acusado de chefiar um esquema de jogos ilegais no País, se valia dos repasses para emplacar nomeações, abocanhar obras e vencer licitações tocadas pelo governo estadual em diversas áreas. Os diálogos mostram ainda que Cachoeira emprestou R$ 600 mil ao presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, um dos principais aliados de Perillo, ex-tesoureiro de sua campanha em 2010. A assessoria do governador não quis comentar o caso.
O pagamento é relatado pelo próprio Cachoeira numa ligação de 1.º de agosto de 2011. Do outro lado da linha, o então diretor da Delta Construções no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, responde que é preciso "tirar proveito da situação", ao saber do empréstimo, conforme relatos que constam na investigação da PF.
Onze dias depois, Abreu diz a Cachoeira que está em segundo lugar em três licitações e que, se Wladimir Garcez - ex-vereador do PSDB que, segundo a PF, atuava como elo entre a quadrilha e o governo - negociasse com sucesso a saída de concorrente melhor colocado do páreo, ganharia recompensa. "Quero o lote 18. Se o Wladimir conseguir com o Marconi e com Jayme que o cara arranque a proposta dele e eu entre com a minha proposta, assino o contrato e eu dou R$ 50 mil pra ele", promete.
Em outra conversa, fica claro que o empréstimo de R$ 600 mil a Rincón teria rendido ao grupo de Cachoeira a nomeação de um parente na Agetop.
Em mais um telefonema, interceptado pela PF em 27 de abril de 2011, Cachoeira se mostra irritado com Garcez. Reclama do desempenho do secretário de Infraestrutura, Wilder Morais, ao nomear desafetos dele no Detran de Goiás. "Um bosta consegue emplacar um cara que a gente estava boicotando! Vai falar que é competência de quem? Dele, né? Porque não deu um centavo para o Marconi", queixa-se.
Os grampos mostram o apetite da organização por outras áreas. Em 26 de abril de 2011, Cachoeira ouve de um aliado, identificado como "Júlio", que Perillo construiria escolas. Em seguida, o interlocutor diz que o titular da Secretaria de Educação facilitaria a entrada do grupo no negócio: "É o Thiago Peixoto. É nosso, 100% nosso. Precisa ligar para o Marconi, não. Wladimir vai falar com ele". Em 9 de julho de 2011, Garcez fala para Cachoeira sobre recapeamento asfáltico: "É aquilo que o Marconi, você lembra que falou lá na casa do Edivaldo (Cardoso, ex-chefe do Detran) para nós dois?". 

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