terça-feira, 19 de junho de 2012

Jornalista de MG ameaçado por editorial contra prefeito

Reinaldo Fernandes, editor do jornal De Fato, de Brumadinho (MG), foi ameaçado com três pedras e um tiro no dia 9 de junho. Ele supõe que as ameaças foram motivadas por um editorial escrito por ele em maio de 2012 sobre o suposto mau uso de dinheiro público pelo prefeito. O jornalista acredita que a próxima edição do jornal, com mais denúncias contra o político, resulte em ainda mais intimidações.
Em 9 de junho, por volta das dez da noite, Fernandes e sua esposa ouviram um estrondo: três pedras grandes haviam sido jogadas sobre o telhado de sua casa. Fernandes chamou a polícia, fez o boletim de ocorrência e voltou para a cama. Quando a esposa foi abrir a cortina, uma bala atravessou a janela e atingiu um lustre. “Não era só para ameaçar”, diz o jornalista, com temor de que a bala pudesse ter atingido sua esposa ou um de seus filhos. Chamaram novamente a Polícia Civil, acrescentaram a nova ocorrência ao boletim anterior e saíram de casa, pois “não sabiam se poderia acontecer de novo”.
No texto “O prefeito rouba mas faz!”, que teria provocado a ação, Fernandes comenta – sem citar o nome do prefeito Avimar Barcelos, o Nenen da Asa (PV) – que o uso de dinheiro público para fins pessoais prejudica principalmente a população mais carente e que depende mais dos serviços públicos.
O editorial foi escrito depois de diversas denúncias contra o político, de uso de caixa-dois e compra de voto feitas pelo  ex-coordenador da campanha eleitoral à Tribuna da Cidade e à Câmara Municipal. A Câmara Municipal abriu uma CPI contra Nenen da Asa, mas resolveu investigar apenas os vereadores citados nas denúncias. “Procuramos os dados e publicamos”, afirma Fernandes, lembrando que eram dados públicos.
Depois das ameaças, “preferimos não recuar totalmente, mas também não acirrar [as denúncias]”, diz Fernandes. Além disso, as fontes começaram a escassear. “As pessoas têm medo de serem ameaçadas, têm medo de terem o nome associado à matéria”, relata ele.
O jornalista conta que já sofreu outras ameaças. Em junho de 2011, o entregador do jornal foi ameaçado pelo cunhado do prefeito. Em 16 de maio deste ano, a esposa do editor encontrou restos de bala na casa. Na época, acharam que era obra de arruaceiros, “coisa de moleque”, e não reportaram à polícia. As autoridades informaram que a bala que atravessou a janela no dia 9 é do mesmo calibre que os estilhaços encontrados em maio.
Até a semana passada, as ameaças nunca haviam sido físicas, apenas verbais. Outros políticos já haviam ligado para os jornalistas voluntários com ameaças, mas “nunca imaginei que chegaria nesse ponto”, lamenta Fernandes. Ele diz que os políticos na cidade sempre foram controlados em suas oposições. Por isso,  estranhou os casos de ameaça a ele. “É uma cidade pequena, sem muita violência”.
Reinaldo Fernandes edita o jornal De Fato há 14 anos. Desde então, o periódico já acompanhou acassação de dois prefeitos. “Sempre publicamos o que tínhamos que publicar”.
Porém, Fernandes acredita que a próxima edição do jornal, que sairá em julho, possa trazer ainda mais problemas. Ela trata sobre a falta de comunicação do prefeito. Segundo Fernandes, “ele se recusa a passar informação até para os vereadores”.
Os vereadores, que não receberam as informações sobre licitações de obras que haviam pedido, entraram com mandatos de segurança contra o político, impetrados pelo advogado Luiz Gustavo Scarpelli, que representa os vereadores do bloco de oposição - Itamar Caetano (PSDB), Jayme Oliveira (PSDB), Marta Boaventura (PSD) e Lílian Paraguai (PT). Em maio, o juiz Robert Lopes de Almeida, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), determinou a divulgação de todos os dados referentes a editais, contratos, notas fiscais e de empenhos da prefeitura. Fernandes pretende publicar esses processos, mas não sem temor. “É uma cidade onde as pessoas têm muito medo”, diz Fernandes, que se considera a única pessoa no jornal com coragem para denunciar e assinar embaixo.
Fonte:  http://www.abraji.org.br


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