Vínculo passado com o PT e amizade com ex-presidente levantaram dúvidas sobre participação do ministro no julgamento; para o presidente do Supremo, Ayres Britto, atuação é regular
Vera Rosa, Felipe Recondo e Mariângela Galucci, de O Estado de S. Paulo
O ministro do Supremo Tribunal Federal José Antônio Dias
Toffoli vai participar do julgamento do mensalão, que começa na
quinta-feira, 2, e deve durar mais de um mês. Em conversas reservadas,
Toffoli disse não ver motivos para se declarar impedido. Acrescentou que
a pressão para ficar de fora só o estimulou a atuar no caso.
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André Dusek/AE
Toffoli, ministro do STF participará do julgamento do mensalão
Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem também
não há motivos de impedimento, e do ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu – apontado pelo Ministério Público como "chefe da quadrilha" do
mensalão –, Toffoli construiu sua carreira jurídica dentro do PT. Ele
foi advogado do partido – destacando-se na liderança petista na Câmara
dos Deputados nos anos 1990, e na consultoria de campanhas eleitorais –,
assessor jurídico da Casa Civil quando o ministro era Dirceu e
advogado-geral da União do governo Lula.
Antes de assumir a cadeira no Supremo, Toffoli também atuou como
advogado do próprio Dirceu em algumas ocasiões. Até 2009, ele era sócio
no escritório da advogada Roberta Maria Rangel, hoje sua namorada, que
defendeu outros acusados de envolvimento no mensalão, como os deputados
Professor Luizinho (PT-SP), então líder do governo, e Paulo Rocha
(PT-PA).
Indicado para assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral em
2014, Toffoli se diz contrariado com as dúvidas lançadas sobre sua
isenção – questionamentos são feitos desde que tomou posse no STF em
2009. "Eu já estou participando desse processo. Não vou sair de jeito
nenhum", disse o ministro, segundo relato de um interlocutor.
Toffoli já analisou, por exemplo, recursos de advogados de defesa dos réus nessa fase anterior ao início do julgamento de fato.
Sinalização. O presidente do STF, Carlos Ayres
Britto, afirmou na segunda-feira, 30, que a participação do colega na
análise de questões relativas ao processo do mensalão indica que ele não
vai se declarar impedido. "Não me compete opinar sobre nada, se ele vai
ou se não vai (julgar o mensalão), e não quero ser mal interpretado. Agora, isso (participar de etapas anteriores) sinaliza participação. Sem dúvida", disse na segunda em Brasília o presidente do Supremo.
Não há pressão na Corte para que ele não julgue o caso. Nos
bastidores, os comentários são de que o Supremo é movido "por espírito
de corpo" e, portanto, outros integrantes da Corte, também com ligações
políticas, poderiam ser alvos de suspeição e sofrer o mesmo
constrangimento caso Toffoli fique fora.
Exemplos. Na tentativa de desqualificar a pressão
sobre Toffoli, dirigentes petistas ressuscitaram a filiação de Ayres
Britto ao PT nos anos 90. Lembraram, por exemplo, que ele foi candidato a
deputado federal pelo PT de Sergipe, em 1990, e, na época, mantinha
ótimo relacionamento com Dirceu. Hoje, o voto de Britto é computado pelo
partido na lista dos contrários ao ex-ministro.
Para Marco Aurélio de Carvalho, coordenador jurídico do PT, há
"incoerência" em relação à cobrança sobre a participação do ministro.
"Os mesmos critérios levantados deveriam ser arguidos em relação ao
ministro Ayres Britto", afirmou Carvalho.
Advogados ligados ao PT afirmam, ainda, que, se a pressão valesse
para todos, a presença do ministro Gilmar Mendes, indicado ao Supremo
pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também poderia ser
contestada, pois ele conversou sobre mensalão com Lula, testemunha no
processo. A reunião ocorreu em abril, no escritório de Nelson Jobim,
ex-titular da Defesa. Segundo relato de Mendes, o ex-presidente o teria
presionado para adiar o julgamento. Lula nega.
Pedido. Sem ligação com o processo, o advogado Paulo
Magalhães Araujo, que comanda uma ONG, pediu na segunda-feira a
suspeição de Toffoli em petição encaminhada ao Supremo. Como não é
presentante de nenhum dos réus do caso, o pedido deve ser ignorado pelos
ministros.
Fonte: Estadão.com.br