Ricardo Brito, da Agência Estado
O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) voltou na tarde desta terça-feira, 3, ao plenário para fazer seu segundo discurso na tentativa de evitar a cassação por conta das acusações de ter usado o mandato parlamentar para defender interesses do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Em um pronunciamento de 15 minutos, totalmente lido, Demóstenes reafirmou que é inocente e disse que se tornou a “bola da vez”.
“Hoje eu sou a bola da vez. Se a tramoia der certo comigo e me amputar o mandato, daqui a pouco pode se repetir com outra vítima, um outro senador. É preocupante o precedente de tentar cassar um senador com base em provas ilegais”, afirmou Demóstenes, para um plateia de apenas sete senadores em plenário. Na segunda, no seu discurso de estreia da série, somente cinco parlamentares o ouviram romper o silêncio de mais de 100 dias em plenário.
Demóstenes disse que foram editadas e montadas pela Polícia Federal as escutas telefônicas em que apareceram suas conversas com Cachoeira. O senador questionou o fato de ter sido negado a ele direito a realizar perícias para comprovar o que fala. Para ele, o Senado certamente não se curvará a essa tática de campanha de escolher “um parlamentar como alvo e só sossega quando aparece outro na mira”.
“Perícia não é uma modalidade de enrolação da defesa, não é uma filigrana para postergar julgamento. Perícia é uma ciência a serviço da Justiça”, disse ele, ressaltando que foi investigado ilegalmente com o uso de “tecnologia de ponta”. “Para me punir estão sendo usados métodos medievais. Existir bode expiatório é indigno do Senado da República”, completou.
Mais uma vez, o senador goiano criticou o que chama de “tira hermeneuta”, os agentes da PF responsáveis por fazer a transcrição das conversas grampeadas e verificar indícios de crimes praticados pelos interlocutores. “O tira hermeneuta, de propósito, só colocou no papel o que julgou conveniente para a campanha de demolição da minha honra”, disse.
Demóstenes apelou aos pares. “Aqui estamos entre os melhores hermeneutas do País: os senadores da República. E, se entre nós a análise for puramente política, poderei ser crucificado ou enaltecido. É nesse sentido lato sensu que peço para me julgarem pelo que fiz. Não posso ser responsabilizado por interpretações dissociadas da realidade fática”, afirmou.
Assim como na segunda, o senador deixou o plenário ao fim do pronunciamento. Nesta quarta, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) decidirá se a tramitação do processo de Demóstenes não violou qualquer preceito legal.
Fonte: Estadão.com.br
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