quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
QUANTO VALE UM RAFALE?
Brasília (DF) - Ora, veja só: entramos em 2010, onde a modernidade toma conta de tudo – dos aparelhos eletrônicos à legalização do casamento gay, só para descobrirmos que a corrupção é saudosista. Nada como os velhos métodos para se continuar surrupiando dinheiro que todos nós suamos para pagar de impostos neste fazendão sem lei.
Saudade não tem idade, dizia a estação de rádio. Os corruptos “defepaíf” não se esquecem disso, até quando saem às compras para a força aérea do fazendão. É bem verdade que nesse saudosismo há um componente de segurança – por que mudar os métodos se eles sempre deram certo? – mas, para quem vive a realidade eletrônica de 2010 que filma e dissemina até dinheiro guardado nas meias, é possível constatar a obsolescência do ritual.
Para começo de conversa, a própria tentativa de aquisição de minguados 36 caças a jato para uma força aérea encarregada de proteger um fazendão desse tamanho soa como uma piada velha de português. Quando se adiciona os submarinos nucleares – ou melhor, um (1) submarino nuclear, então, as justificativas são de fazer chorar: proteção do território, proteção do “pré-sal”, e por aí vai. Sniff, sniff. Estamos em 2010, num mundo globalizado infinitamente mais complexo do que aquele que justificou, outrora, uma força aérea de potencial desequilibrador decisivo. Uma força aérea para um país continental precisaria de pelo menos 5 ou 6 vezes mais aviões – para complementar, com presteza, um trabalho feito em outra esfera, a da informação.
O fazendão vive, na prática, em plena era da informação – muito mais valiosa, perigosa, fundamental, influente do que qualquer outra arma. Mas os corruptos nem querem saber disso. Ainda há espaço para ganhar dinheiro “in the old-fashioned way”, claro. E o que eles fazem? Adotam o velho ritual da licitação internacional que demora para sempre mas que, no fundo, já tem ganhador decidido. Rola até o esforço manco de promoção do ano do Brasil na França e do ano da França no Brasil, além do anúncio de “homem do ano” para o perpetrador-mor da maracutaia, como se ninguém percebesse o que está acontecendo.
Acontece que esse tipo de picaretagem simplória (mas eficiente) funcionava no passado, quando não havia internet, a troca de informações não se dava em tempo real e não incluía o público em geral. Agora, a coisa fica bem mais complicada e as perguntas – sempre incômodas – vão surgindo sem cessar.
Por exemplo: por que o Brasil já acertou a compra de 36 caças Rafale franceses por 5 bilhões e 800 milhões de dólares (10 bilhões de reais no câmbio atual)? Cada avião sai por volta de 162 milhões de dólares. É uma nota preta. Agora… por que a India, coleguinha do BRIC, que rejeitou ainda no estágio de avaliação técnica a compra de 126 (cento e vinte e seis, você leu direitinho) caças Rafale, pagaria iguais 10 bilhões de dólares? Para a India, cada aviãozinho (“Não é aviãozinho, mamãe, é um Rafale!”, diria a versão 2010 do comercial do Danoninho) custaria cerca de 80 milhões de dólares. Opa! Êpa! Sobram pouco mais de 80 milhões de dólares por cada avião – que, nessa equação, são capazes, por exemplo, de transformar a espetaculosa avenida Água Espraiada num simples beco. Mais sobre essa água suja que sobra pra todo lado numa notícia velha, disponível no link http://bit.ly/8rOkEh. Afinal de contas, é preciso resgatar a memória nacional.br>
Em ano eleitoral, onde a situação pretende fazer com que a população do fazendão engula uma ex-terrorista e atual falsificadora de diplomas universitários (que, no item “experiência administrativa” de sua folha corrida, nem síndica de prédio foi) como presidente, à frente de um estado bolivariano-chavista defensor dos “direitos humanos”, esse é, sem sombra de dúvida, um santo dinheirinho. Para quem não nasceu ontem, fica dolorosamente óbvio que a corrupção – essa doença crônica que infecta os governos do Brasil há décadas – está, mais uma vez, desempenhando um papel muito forte nessa negociação.
Em tempo: o que falta(va) de memória (ou mesmo de interesse) aos brasileiros que ainda se interessam pelo futuro de seu país, nessa luta inglória contra a corrupção, sobra no Google. Foi lá que se encontrou a informação (êta palavra perigosa, essa!) veiculada numa agência indiana de notícias (em inglês) sobre a rejeição aos caças franceses. A notícia é datada de 16 de abril de 2009 – muito antes, portanto, da confusão instaurada por essas bandas. Veja por você mesmo(a) em http://bit.ly/7ZVNBZ. É o seu bolso, contribuinte!
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