segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CORONELISMO À MODA ANTIGA

CORONELISMO À MODA ANTIGA


Prefeito que construiu 3 barragens com dinheiro público em

sua fazenda e de parentes, deixa duas comunidades sem água
Voto não tem preço. Tem consequência. Para os moradores de duas comunidades rurais do Norte de Minas, a frase-símbolo utilizada pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) nunca fez tanto sentido. Como a maioria não está disposta a votar nos candidatos que o prefeito apoia para deputado estadual, federal, senador e presidente da República, a consequência é ficar sem abastecimento de água, numa das regiões mais secas do Estado.
Tabocal II e Larajão são dois povoados de Glaucilândia, município de 3.072 habitantes e 2.929 eleitores que fica a 25 quilômetros de Montes Claros. Desde o final da semana passada os glaucilandenses das duas comunidades rurais ficaram sem abastecimento de água. Segundo eles, a ordem para cortar a energia das bombas que retiram a água dos poços tubulares que atendem às duas comunidades partiu do prefeito Marcelo Ferrante Maia (PSDB). A ojeriza do prefeito com os moradores é antiga. Teria começado nas eleições municipais de 2008 quando, supostamente, os moradores das duas comunidades não teriam apoiado a candidatura do atual prefeito.
De acordo com os moradores, a primeira investida do prefeito contra os habitantes das duas comunidades ocorreu no início deste ano. Marcelo Ferrante Maia teria determinou à Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) que passasse as contas de energia dos poços tubulares para o nome das associações, retirando-as do nome da Prefeitura. O Ministério Público interveio e determinou que a Cemig voltasse as contas para o nome da Prefeitura, o que foi feito. Mas o prefeito não teria desistido de punir as comunidades. A Prefeitura parou de pagar as contas, levando a a Cemig a cortar o fornecimento de energia.
O prefeito nega as acusações de perseguição política. Ele se defende alegando que o município é pobre e não pode mais pagar energia consumida pelas bombas dos poços tubulares, apesar do fato de que esse pagamento vinha ocorrendo ao longo de quase uma década. Vereadores refutam o argumento do prefeito. Afirmam que ao longo dos últimos anos todas as Leis Orçamentárias Anuais do município foram aprovadas com previsão de verba para o pagamento das contas de energia, inclusive a de 2010.
Para os moradores os argumentos do prefeito não convencem. Alegam que enquanto estão sem água, o prefeito teria construído três barragens com dinheiro público em propriedades rurais de sua família. Todas as barragens foi construída através da Fundação Rural Mineira (Ruralminas), uma na Fazenda Lagoa do Boi, de propriedade do prefeito; outra na Fazenda Mucambo, que pertence ao vice-prefeito Luiz Brant Maia (PDT); e a terceira na Fazenda Vai Quem Pode, do finado Antônio Brant Maia, os dois últimos tios do prefeito.
Sobre a construção das barragens em sua fazenda e de seus parentes, Marcelo Ferrante Maia informou que não teve alternativa. Segundo o prefeito, todos os proprietários rurais do município - situado no Polígono das Secas - teriam se recusado a deixar construir as barragens em suas glebas, não lhe deixando alternativa, a não ser construí-las na sua própria fazenda e na de seus tios. Os moradores de Glaucilândia também acusam o prefeito de ter jogado no lixão toneladas de sementes de arroz enviadas pelo Governo para serem distribuídas entre os pequenos produtores rurais do município.
As denúncias relativas à construção das barragens com dinheiro público em propriedades do prefeito e seus familiares e das sementes de arroz enterradas no lixão foram parar no Ministério Público em Montes Claros, mas os moradores não têm notícias de quais providências foram tomadas.

Fábio Oliva
Jornalista Investigativo
Editor da Folha do Norte

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