# Chico Bruno
Alguém decidiu que os crimes contra o
dinheiro público, aquele que é fruto da arrecadação
de impostos, taxas e contribuições
dos nossos bolsos para os governos,
são “crimes de colarinho branco” e quem
os comete são “corruptos”.
Chamar estes criminosos de “corruptos”
é complacência, por que nos dicionários
está escrito, que “corrupto” quer dizer desmoralizado,
estragado, podre.
Este escape perpetrado, principalmente,
pela mídia, torna um crime hediondo, pois
são desviados milhões de reais da saúde,
educação e infraestrutura, em um pequeno
delito no entendimento da maioria da população
brasileira, que não tem uma idéia
precisa do que seja corrupção e corrupto.
O povão sabe o que é roubo e ladrão.
Ao denominar estes criminosos, de anões
do orçamento, mensaleiros, sanguessugas,
aloprados e outros termos jocosos e engraçados
a mídia os diferencia dos demais criminosos,
tachados de ladrões.
Este pequeno detalhe semântico é que
explica por que as classes menos favorecidas
da população não se indigna.
Para o povão quem rouba qualquer coisa
é ladrão. Eles não fazem distinção nem entre
furto e roubo.
Ao amenizar o crime contra o dinheiro público,
denominando-o como corrupção, estamos
protegendo quem os comete, pois o
olhar popular não sabe o que é corrupção.
Ele sabe o que é ladrão.
Tivesse a mídia, utilizado as palavras certas,
que fazem parte do vocabulário popular,
com certeza o país estaria indignado.
Tivesse a mídia, escrito ao invés de corrupção
roubo e ao contrário de corrupto ladrão,
muita gente que foi eleita não teria
sido eleita.
O problema é que a imprensa se tornou
asséptica e inodora. É pudica, tem vergonha
de ser uma imprensa popular. A mídia criou
manuais de redação e estilo, ficou empolada.
A mídia tem vergonha de ser direta.
Ao invés de dizer, o banqueiro fulano roubou
milhões, ela diz que ele desviou milhões.
Ao invés de taxa-lo de ladrão, chamao
de corrupto. Para o povão o verbo desviar
quer dizer atalho e corrupto é desmoralizado,
tal como está escrito no dicionário.
Ao não usar as palavras certas, ao desprezar
os dicionários, a imprensa se distancia
do povo. Perde leitores e vai encolhendo.
Está na hora de se rever a linguagem da
imprensa. A mídia não escreve e não fala a
linguagem que o povo entende.
O problema é de semântica, pois para o
povão quem rouba é ladrão."
# Chico Bruno é jornalista.
Materia publicada no Jornal a Folha do Norte(05/2011).
Postado por ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DE GLAUCILANDIA às Segunda-feira, Junho 06, 2011
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