Dois dias depois de ser oficialmente instalada, a CPI mista do Cachoeira já acumula 167 requerimentos apresentados pelos senadores e deputados integrantes do colegiado. São pedidos de documentos sigilosos, convocações de depoentes e solicitações de quebras de sigilos fiscais e bancários.
Entre os depoimentos, os parlamentares demonstraram que fazem questão de ouvir Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Também estão na lista o sócio majoritário da Delta Construções, Fernando Cavendish; o engenheiro Cláudio Abreu, ex-diretor regional da Delta; o contador Geovani Pereira da Silva, apontado como tesoureiro do esquema de Cachoeira; os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT); o procurador-geral da República, Roberto Gurgel; e até o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
São muitos também os pedidos de quebra de sigilos bancário e fiscal. Estão no alvo dos parlamentares, além de nomes indicados pela PF com algum tipo de ligação com Cachoeira, a Delta Construções e a Alberto & Pantoja Construções e Transportes Ltda, considera pela polícia uma empresa de fachada, criada exclusivamente para receber dinheiro “sujo” vindo da Delta.
Entre os senadores, o que apresentou o maior número de requerimentos foi Alvaro Dias (PSDB-PR), com 31. A seguir, vem Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), com quatro, e Fernando Collor (PTB-AL), com três. Todos eles também pedem informações, oitivas de testemunhas e de indiciados ou quebras de sigilos.
Por enquanto, a CPI mista aprovou apenas um requerimento, em sua primeira reunião, na terça-feira (24), com pedido de informações ao Supremo Tribunal Federal (STF), à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à Polícia Federal sobre as operações Vegas e Monte Carlo.
Plano de trabalho
A comissão tem reunião marcada às 14h30 da próxima quarta-feira (2), após o feriado, quando o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), deve apresentar aos colegas um plano de trabalho para as próximas semanas. O planejamento pode não agradar a todos, visto que os integrantes da comissão divergem sobre o melhor momento para se iniciar as oitivas dos acusados. Os parlamentares pretendem também eleger o vice-presidente do colegiado.
Alguns dos nomes presentes nos requerimentos apresentados:
- Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira: principal alvo da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, foi preso em 29 de fevereiro por chefiar um esquema de exploração de jogos ilegais. Também é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.
- Fernando Cavendish: sócio majoritário da Delta Construções, empresa com grande número de obras do governo federal. Muitas, segundo a PF, obtida com o pagamento de propinas;
- Demóstenes Torres: senador de Goiás pego em escutas telefônicas com Carlinhos Cachoeira e acusado de trabalhar pelos interesses do contraventor no Congresso Nacional;
- Geovani Pereira da Silva: contador de Cachoeira. Está foragido e é procurado pela Polícia Federal;
- Rosalvo Simprini Cruz: outro suposto contador de Cachoeira;
- Idalberto Matias de Araújo, o Dada: sargento da reserva da Aeronáutica, acusado de arapongagem, de alertar sobre operações contra o jogo e de cooptação de policiais;
- Cláudio Abreu: ex-diretor da Delta, foi desligado da empresa por conta da vinculação com Cachoeira. Estava foragido e foi preso pela PF na quarta-feira (25);
- Claudio Monteiro: ex-chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Deixou o cargo depois de o Jornal Nacional, revelou trechos de gravações feitas pela PF que apontam uma suposta ligação dele com o grupo de Carlinhos Cachoeira;
- Andréia Aprígio de Souza: ex-mulher de Cachoeira e acusada de laranja, escondendo recursos e patrimônio obtidos com os crimes;
- João Carlos Feitosa, o Zunga: ex-subsecretário de Esporte do DF. Escuta da PG revelou Zunga pedindo a um contador do grupo de Cachoeira que deposite dinheiro em sua conta.
- Delta Construções: uma das maiores empreiteiras do Brasil e grande cliente do PAC, acusada de pagamento de propina para contratos de coleta de lixo no DF, de doações ilegais de campanha e de nomeações de políticos.
- Brava Construções e Terraplenagem: considerada pelas investigações uma empresa de fachada, criada exclusivamente para receber dinheiro “sujo” da Delta.
- Alberto e Pantoja: A exemplo da Brava, também seria de fachada. Segundo a PF, ambas têm o mesmo endereço: um prédio numa cidade-satélite de Brasília onde existe uma oficina mecânica.
Fonte: Jornal do Brasil