sábado, 14 de julho de 2012

Tribunal de Goiás afasta juiz ligado a grupo de Cachoeira

FREDERICO VASCONCELOS
DE SÃO PAULO
O Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, com sede em Goiás, afastou de suas funções na quinta-feira o desembargador Júlio César Cardoso de Brito, acusado de envolvimento com o empresário Carlinhos Cachoeira.
Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal e documentos encaminhados ao TRT pela 11ª Vara Federal Criminal de Goiás sugerem que Brito orientava advogados do grupo de Cachoeira a lidar com ações no tribunal em troca de vantagens financeiras.
Por unanimidade, os desembargadores do tribunal decidiram abrir processo disciplinar para investigar denúncias apresentadas pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Sindicato dos Servidores Federais em Goiás.
 Na véspera, Brito pediu licença de suas funções no TRT, onde era vice-presidente e chefiava a corregedoria.
O processo se baseia em 77 ligações interceptadas pela polícia, em que o desembargador conversa com um dos braços direitos de Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz, que Brito trata como "irmão".
Nas conversas, o desembargador discute situação de empresas com ações trabalhistas no TRT de Goiás, entre elas o laboratório Vitapan, de Cachoeira, a distribuidora de medicamentos JC, de um irmão do empresário, e a Ideal Segurança.
Há suspeitas de que uma viagem do desembargador a Buenos Aires foi patrocinada por Gleyb. Numa das conversas gravadas, um operador de Cachoeira discute com Brito a encomenda de um computador que o empresário traria para ele de Miami (EUA).
O juiz disse que não atuou no julgamento de ações de interesse das empresas, mas a corte entendeu que ele orientava advogados do grupo trocando mensagens com identificação de processos para acompanhamento no TRT.
As escutas mostram que o desembargador se referia a Cachoeira como "cabeça" e "companheiro" e também tinha contato com o delegado da PF Deuselino Valadares dos Santos, afastado por sua ligação com Cachoeira.
Preso no fim de fevereiro e alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, Cachoeira é acusado de comandar uma rede de corrupção e tráfico de influência com ramificações em vários Estados.
O TRT designou o desembargador Platon Teixeira de Azevedo Filho para assumir as funções de Brito na vice-presidência e na corregedoria enquanto durarem as investigações no tribunal.
O envolvimento de Brito com Cachoeira foi investigado inicialmente por uma comissão de sindicância, instaurada em maio, após reportagens publicadas pelos jornais "O Popular", de
Goiás, e "Correio Braziliense", de Brasília, revelarem as ligações do desembargador com o grupo.
Diante da gravidade das informações recebidas da Justiça Federal, a comissão de sindicância suspendeu o procedimento preliminar e o tribunal decidiu julgar a proposta de abertura de processo administrativo disciplinar, apresentada pelo presidente da corte, desembargador Mário Sérgio Bottazzo.
OUTRO LADO
O desembargador Júlio César Cardoso de Brito alegou em sua defesa que não houve qualquer influência sua no julgamento de processos.
Segundo ele, está provado nos autos que não participou de julgamentos que envolviam interesse das empresas Ideal Segurança, Vitaplan Indústria Farmacêutica e JC Distribuidora de Medicamentos.
Ele exibiu documentos mostrando que não atuou como relator ou como revisor em processos que estão em tramitação no tribunal.
O desembargador disse que mantinha convívio social com Gleyb Ferreira da Cruz e com Deuselino Valadares dos Santos, não chegando a amizade íntima ou a algum vínculo negocial.
Diz que é amigo do policial há dez anos, a quem habitualmente trata por "polícia" ou "orea", frequentando sua residência, participando de reuniões sociais e atividades maçônicas.
Sustentou que conhecia superficialmente Carlinhos Cachoeira, sem nenhum convívio diário. Disse que na viagem com sua mulher a Buenos Aires, acompanhados de Gleyb Ferreira da
Cruz e Marcos Antônio Ramos, Cruz e Ramos souberam casualmente que viajaria à Argentina.
Ele declarou que cada um viajou por sua própria conta.
Finalmente, negou ter intermediado encontros entre empresários goianos do Laboratório Neoquímica e o ministro do TST Guilherme Augusto Caputo Bastos.
Afirmou que os contatos de empresários com o ministro foram institucionais, com o intuito de conseguir patrocínio para seminários de direito desportivo trabalhista, eventos para cuja organização apenas pretendeu ajudar.

Editoria de Arte/Folhapress
 Fonte:Folha .com

Nenhum comentário:

Postar um comentário